Feizi M. Milani
Adolescência da Espécie Humana
E interessante notar que Bahá'u'lláh (*) traça um paralelo entre o desenvolvimento do indivíduo e o da humanidade. Ele coloca que da mesma forma que o ser humano passe por diversas fases no seu crescimento recém nascido, infância, adolescência, fase adulta estas mesmas fases se reproduzem no desenvolvimento do ser humano coletivamente. Ou seja, a espécie humane vivência os mesmos estágios de maturação que o indivíduo. Ao analisar o período atual, Bahá'u'lláh afirma que estamos atravessando a adolescência coletiva da espécie humane.
De fato, e possível encontrar se diversas similaridades entre a adolescência do indivíduo e a adolescência da raça humane. O quadro a seguir e uma adaptação das comparações traçadas pelo psicanalista Luiz Carlos Osório:
ADOLESCÊNCIA INDIVIDUAL
ADOLESCÊNCIA COLETIVA
(l) Redefinição da imagem corporal
Redefinição das configurações urbanas e de fronteiras nacionais
(2) Processo de individuação e rompimento do vinculo de dependência simbiótica com os país, buscando a autonomia.
Processo de descolonização e rompimento dos vínculos de dependência com a metrópole, buscando a autonomia política e econômica.
(3)Elaboração do luto pela perda da condição infantil
Elaboração do luto pela perda da condição colonial.
(4)Estabelecimento de um código de ética próprio
Estabelecimento de códigos internacionais que norteiem a vida no planeta e os direitos individuais.
(5)Busca de identificação e segurança na sociedade pela formação do grupo de iguais
Busca de identificação e segurança na comunidade internacional pela formação de blocos regionais.
(6)Busca de um sentido para a vida pessoalBusca de um significado para a existência
Humana.
(7) Aceitação tácita dos ritos de iniciação como condição de ingresso ao status de adulto.
Aceitação tácita dos ritos de iniciação democrática como condição de ingresso ao status de nação adulta.
(8) Criticas as crenças dos antepassados
Criticas as ideologias, dogmas e sistemas da velha ordem mundial
Vamos comentar alguns dos paralelos acima traçados:
(1) 0 corpo do adolescente passe por uma serie de mudanças que não estão sob o controle da sua própria vontade e que exigem dele uma readaptação a este novo corpo que ele ainda desconhece. Perde o seu corpo infantil e um novo corpo começa a surgir, mudando a cada dia. Mudanças semelhantes ocorreram a nível global: o êxodo da população das zonas rurais para as zonas urbanas, criando as grandes metrópoles; as mudanças geo políticas destes últimos anos, países se fundem, enquanto outros se dividem, a ponto de os mapas que tínhamos já não servirem mais.
(2) Nesse processo de individuação, e interessante notar como a adolescência e marcada por contradições. Ha momentos em que o adolescente deseja se tornar um adulto e usufruir de certos privilégios e, em outros, sonha voltar a infância, quando tinha privilégios distintos e menos cobranças. O mesmo fenômeno pode ser observado a nível coletivo. Muitos países lutaram intensamente para conquistar a sua independência e deixarem de ser colônias, enquanto algumas das poucas colônias que restaram no mundo preferem continuar a ter uma relação de dependência com a metrópole porque isso traz determinados benefícios.
(4) Um dos grandes desafios da adolescência e o estabelecimento de um código de ética próprio. E na adolescência que o indivíduo, a partir de todos os referenciais de valores que recebeu dos seus país, da escola, da mídia, da religião, dos colegas e de sodas as experiências que passou na sua vida, vai constituir o seu próprio código de ética. Este e inclusive um dos sinais que indica a conclusão da adolescência. E o que esta ocorrendo a nível global. A humanidade tem buscado elaborar códigos internacionais que possam nortear a vida no planeta, dai a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração dos Direitos da Criança, todos os tratados que foram feitos visando a proteção do meio ambiente. Todos esses são códigos de ética que vem se buscando estabelecer e cumprir a nível planetário.
(6) 0 adolescente busca uma razão, um significado para a sua vida: quem sou eu ? o que vim fazer neste mundo? qual e o propósito da minha vida? o que vou ser na vida ? A nível global percebe se a busca de um significado para a existência humane: Afinal, quem somos nós ? o que e o ser humano ? estamos sozinhos neste universo ? qual o sentido da vida ? de onde viemos ? para onde vamos ? Estes questionamentos são da mesma natureza dos que o indivíduo começa a se fazer na adolescência.
(*) Enquanto me preparava para este encontro, me deparai com um autor que, em meados do século passado, anteviu com precisão e clareza os processos que estão em andamento hoje no mundo e, delineou uma serie de princípios que, do seu ponto de vista, seriam fundamentais nesta era de transição. Decidi então, incluir algumas reflexões deste líder do pensamento, que se chama Bahá'u'lláh, entremeando as questões que vamos colocar do ponto de vista científico.
(8) As criticas que o adolescente fez as crenças de seus país e antepassados não significam que ele as esteja rejeitando, não significa que os valores e conceitos que a família Ihe passou serão abandonados. Significa que através dessa critica ele poderá refletir melhor e questionar qual e a validade de tudo aquilo. Ele deseja conhecer e compreender a realidade por si mesmo, o que e muito positivo. A partir de suas reflexões e questionamentos, o jovem filtra, seleciona e acaba por adotar uma considerável parcela dos valores de sua família. A nível coletivo, percebe se claramente em todos os ramos do conhecimento e da atividade humane uma busca de novos paradigmas e conceitos, novas formas de se ver, pensar e agir.
Processos de integração e desintegração
O momento de transição e mudança pelo qual a sociedade humane esta passando pode ser caracterizado como sendo a sua adolescência. E o que e a adolescência senão o prenuncio da maturidade ? Essas transformações e a maturação da espécie humane tem duas vertentes: integração e desintegração. Estes dois processos são gêmeos e indissociáveis, pois na realidade constituem um único processo. E exatamente como no adolescente; ele tem ganhos e perdas: se ganha um novo corpo, e porque perdeu o corpo infantil. Ele perde a condição infantil, em compensação, conquista a condição de adolescente e, mais tarde, a de adulto.
O atual momento histórico e caracterizado por essa aparente contradição. Acontecimentos que indicam o desmoronamento da velha ordem mundial e a decadência de um sistema ultrapassado de crenças, valores e formas de agir, coexistem com diversos eventos que representam o surgir de uma nova ordem mundial, de uma nova escala de valores e uma nova forma de viver. Logo, os processos de integração e desintegração são simultâneos e complementares. Aparentemente são antagônicos, mas na realidade, um contribui e acelera o outro. Por exemplo, quanto mais se agride o meio ambiente, paradoxalmente, mais cresce a consciência ecológica do cidadão comum. Da mesma forma, duas guerras mundiais nos levaram a constituir a ONU, e hoje, inúmeras agências e organismos internacionais promovem a cooperação entre os povos e buscam a solução para problemas que dizem respeito a toda a humanidade. Jamais houve, em toda a Historia humane, tantos projetos internacionais e de trabalho conjunto entre diferentes nações, religiões, culturas, etc. Ao mesmo tempo, coexistimos com violentas guerras civis, religiosas e tribais, e outras graves injustiças.
Infelizmente, a mídia tem dado uma atenção desproporcional ao processo de desintegração. Coloca se em evidência muito mais as noticias ruins, trágicas, calamitosas, do que as inúmeras boas iniciativas que estão acontecendo neste exato momento a nível local, regional, nacional e global. Portanto, ha uma escolha a se fazer. E cada um de nos pode escolher, em sua vida, de que angulo quer olhar o mundo e em qual desses dois processos quer participar. Não se trata de olhar para um e negar o outro, mas que e preciso se dar conta que ha um processo de integração, ha mudanças positives ocorrendo no mundo.
Basta olharmos o próprio exemplo da educação e constatar o quanto aumentou o reconhecimento do seu papel em nosso país nestes anos recentes. O debate sobre a educação saiu dos restritos círculos acadêmicos e de educadores e passou a ser tema da agenda nacional, integrando as discussões de políticos, empresas, organizações não-governamentais, etc. . A busca da qualidade de ensino , o envolvi mento do s pai s e da comunidade nos processos escolares, a disseminação do conceito das múltiplas inteligências e a descentralização na rede publica de educação são, a titulo de exemplo, 'mudanças extremamente positives que coexistem com sodas as deficiências do sistema educacional. Traçando um paralelo com o adolescente, vemos que, em meio as crises que vivência, ele vai se conhecendo melhor e buscando seu lugar na sociedade, num processo (nem sempre indolor) que resulta no seu amadurecimento e na revelação das suas capacidades adultas.
Conclusão da adolescência
Como podemos caracterizar a passagem do adolescente rumo a sua maturidade ? Ha basicamente quatro sinais ou condições que caracterizam a conclusão, o encerramento da adolescência:
· Definição da identidade sexual e a capacidade de estabelecer relações afetivas estáveis;
· Independência econômica;
· Consolidação do seu sistema de valores pessoais, o seu código de ética próprio;
· Estabelecimento de uma relação de reciprocidade com a geração precedente;
A nível coletivo, Bahá'u'lláh afirma que "Uma vida nova, nesta era, esta vibrando em todos os povos da Terra; contudo, ninguém Ihe descobriu a causa nem percebeu o motivo". A esse fenômeno, uns denominam nova ordem mundial, terceiro milênio, outros, globalização, era de aquário... não importa o nome que se de. Seja da perspective econômica, mística, política ou sociológica, esta nova realidade esta vibrando em toda parte. E como e que isto se manifesta ?
Quais são os sinais que indicam o amadurecimento da sociedade humana ?
· Da autoridade exterior a interior: o reconhecimento da primazia da consciência como uma realidade causal e uma evolução na confiança em fontes interiores do saber. A medida em que reconhecemos que a consciência, nossos valores e crenças, são a cause primeira de nossos comportamentos e atitudes, vamos assumindo a responsabilidade de fazermos as nossas escolhas concientemente.
"A mais amada de todas as coisas, a meu ver, e a justiça... Nela te apoiando, veras com teus próprios olhos e não com os alheios: saberás pela tua própria compreensão e não pela compreensão de teu semelhante."
· Da separação a integralidade: o reconhecimento da integração, da interligação e da integralidade de todos os aspectos da realidade e da experiência. Surgem dai a visão holística, a visão sistêmica e as descobertas cientificas de que tudo o que existe esta interligado e é interdependente.
· A criação de um lar para a humanidade dentro da natureza: a revisão do nosso lugar dentro da natureza e esforços criativos para planejar a atividade humane em consonância com princípios ecossistêmicos e limites ambientais. Começamos a nos dar conta que não somos o centro da vida e o resto apenas nos circunda. Somos um dos elementos de uma complexa teia de inter relações que precise estar em equilíbrio e, para isso, precisamos ter limites na nossa forma de agir.
· O despertar da espiritualidade: a busca de formas de revitalizar a prática espiritual e nutrir um sentimento de comunidade espiritual e, por outro lado, a investigação do papel do espirito em áreas como a saúde, os negócios e a vida publica. A espiritualidade, como eu a entendo, e a capacidade do ser humano de estabelecer conexões profundas e significativas consigo mesmo, com o outro (seus semelhantes), com a natureza e, com Algo que e transcendente, acima da sua compreensão, que pode ser chamado de Deus, de Cosmo, de Sabedoria do Universo, ou qualquer outro nome. Ha, portanto, uma busca dessas conexões e a percepção de que se nos não elevarmos nossos pensamentos e ações para este piano de espiritualidade, será muito difícil superar tantas tensões e conflitos que existem no mundo. Ou reconhecemos que toda a espécie humane fez parte de uma comunidade espiritual por sermos, no dizer da religião, filhos do mesmo Deus e, no dizer da ciência, integrantes de uma única espécie, ou então vamos continuar nesse padrão de guerras, preconceitos e injustiças.
· A globalização da consciência e das comunicações: o desenvolvimento de redes de comunicação entre os participantes da cultura global e um fenômeno extraordinário. Ainda não somos capazes de perceber o quanto isso esta mudando a cultura, a forma das pessoas verem e entenderem o mundo. Imaginem que ha quinhentos anos atras os mais sábios dos homens acreditavam que a Terra era plane e acabava no horizonte; hoje, pelo que assiste na televisão e aprende na escola, uma criança e capaz de entender que nosso planeta e arredondado, que ha gente vivendo em outros lugares, que essas pessoas são iguais a nos. embora exista uma infinitude de diversidades. Isto e uma revolução extraordinária.
· Descentralização: a substituição de relacionamentos, sistemas e instituições baseados no poder centralizado por perspectives e abordagens que ressaltam a capacidade de auto organização criativa e a aprendizagem em todos os níveis. Este processo vem ocorrendo também no sistema educacional, com o reconhecimento de que cada comunidade escolar e quem melhor pode decidir suas necessidades e prioridades. Isto não implica em negar a necessidade de estruturas centrais, mas sim, que as atribuições de cada nível precisam ser repensadas e redefinidas, dando se considerável autonomia e liberdade de ação ao nível local, ao micro.
· De sistemas mecanicistas para sistemas vivos: a substituição de modelos do mundo, de organizações e da experiência humane baseados numa compreensão dos sistemas mecanicistas por perspectives e abordagens baseadas nos princípios que regem os sistemas vivos. E o fim daquela historia de que o corpo humano e dividido em cabeça, tronco e membros (se for dividido, deixa de ser um corpo, tornam se partes desconexas), ou que o coração e uma bomba, os rins são filtros... Essa visão mecanicista durante séculos regeu e influenciou sodas as áreas do pensamento humano e de organização social. Hoje começamos a constatar que ela e artificial, não corresponde a realidade, e que e muito mais natural e coerente a comparação com sistemas vivos. Ha uma frase de Bahá'u'lláh que coloca isso quando diz: "Considerai o mundo como o corpo humano, que embora tenha sido criado são e perfeito, tem sido atingido por varias causas, de graves desordens e doenças". Ele compara a sociedade humane ao corpo humano, o qual e regido pelos princípios da integração, interdependência e cooperação. Ainda ha pessoas que ordem na lei da selva, onde vence quem e o mais forte, ágil ou esperto, mas no corpo humano não existe tal padrão de interação.
· Cooperação, parceria e interdependência: a substituição de relacionamentos, modelos organizacionais e estratégias sociais baseados na competição, por outros baseados nos princípios da reconciliação, parceria e cooperação; isto inclui o campo profissional e a relação entre os sexos.
Auto organização local e global: a proliferação de iniciativas criativas simultaneamente nos níveis local e global, incluindo a revitalização da sociedade civil e o surgimento de instituições globais eficazes representam um dos fenômenos mais extraordinário s do século XX . Chegamos a esta última década do século com centenas de milhares de organizações não governamentais, em todos os recantos do mundo, representando diferentes grupos e comunidades. Essas ONG's representam a sociedade civil e são reconhecidas como o "Terceiro Setor" da economia. Seu numero e influência ampliou se de forma tão acentuada que nos Encontros de Cúpula da ONU, paralelamente a reunião dos Chefes de Estado realize se a reunião da sociedade civil através do Fórum Global, assim como tivemos aqui durante a ECO 92. Milhares de cidadãos e de organizações se reúnem para debater as mesmas questões que os governantes estão discutindo e apresentar lhes suas propostas. Ainda não são plenamente ouvidos, mas e uma mudança de grande significação.
· Suficiência de recursos e preocupação com outrem: o abandono de valores, perspectives e abordagens baseados na cobiça ou na escassez, em favor de outros, baseados num sentimento de suficiência de recursos e preocupação com o semelhante. Sabemos que os recursos naturais são finitos, mas se forem bem administrados e utilizados, serão suficientes para a espécie humane viver por muito tempo ainda neste pequeno grão de areia cósmica que nos foi dado, a Terra, mas que e tudo o que possuímos.
"Se teus olhos estiverem volvidos para a misericórdia, abandona tu as coisas que a ti são proveitosas e adere daquilo que trará proveito ao gênero humano. E se teus olhos estiverem volvidos para a justiça, escolhe tu para o teu próximo o que para ti próprio escolhes."
A crescente importância da escola
Nesse contexto de transformações em que vivem o adolescente e a humanidade, algumas mudanças acentuaram mais ainda a importância da escola, como por exemplo:
Mudanças na estrutura familiar quando a economia mudou de uma base agrícola para a industrializada, houve uma redução do grupo familiar, deixando de ser comunitário para tornar se nuclear. Hoje, com o grande numero de divórcios, surgem novas estruturas familiares que nos levam a repensar o conceito tradicional de família como sendo composta por pai, mãe e filhos.
O ingresso da mulher no mercado de trabalho que obrigou as famílias a buscar alguém ou alguma forma de manter seus filhos ocupados.
A redução do tempo, da qualidade e do conteúdo do convívio familiar devido aos fatores já citados e ao processo de concentração urbano. O pouco tempo que a família passe junto, muitas vezes e na frente de uma TV, o que significa que esta "reunida" e não unida.
A "geração sanduíche" -- Os pais dos adolescentes de hoje receberam, em sua maioria, uma educação autoritária, rígida e repressora, na qual os valores eram impostos pela família. Vivem agora uma realidade bastante diferente, onde a educação que seus filhos desejam ou exigem e mais afetiva, intima, amigável, democrática, participativa. Esses país ficam prensados, como um sanduíche, entre esses dois modelos de educação e, freqüentemente sentem se desnorteados, sem saber se devem se comportar como nos velhos tempos, ou se tentam ser modernos. E, numa tentativa de compensar o fato de que receberam os valores de seus país de uma forma imposta e autoritária, caminham para o outro extremo, que e o de não transmitir aos filhos os seus valores éticos nem colocar limites.
Parece-me que essa tendência a omissão por parte dos país e a mais comum atualmente. Isso tem criado uma lacuna muito perigosa na educação dos jovens, uma ausência de parâmetros que lhes sirvam de guia e a falta de um objeto contra o qual possam se rebelar. Se não ha um referencial, ele se torna um "rebelde sem cause" e se sente perdido. Essa lacuna esta na raiz de vários problemas com que a humanidade vem se debatendo. Os pais têm o direito e o dever inescapável de transmitir e expor o conjunto de seus valores morais e princípios éticos aos filhos. Expor e explicar, jamais impor.
Esse fenômeno aumenta a importância da escola, porque ela e uma referência marcante na vida do adolescente. E um espaço onde valores são colocados e vivenciados, seja de forma explicita ou implícita, mas com certeza ha um conjunto de valores que permeiam a vida e a pratica educativa de cada instituição.
A necessidade de se adiar a entrada do s jovens no mercado de trabalho devido ao desemprego, a não abertura de novas vagas, faz se necessário reter mais gente no sistema educacional antes que precisem de uma vaga no mercado de trabalho. Obviamente isso só funciona com as classes sócio econômicas favorecidas, pois no meio popular a necessidade da sobrevivência fala mais alto.
A aceleração na geração de novos conhecimentos atualmente, o conhecimento humano sistematizado cobra a cada oito ou dez anos. A escola, embora não seja o único "espaço de aprendizagem", tem uma responsabilidade especial; e preciso abdicar da ilusão de que seremos capazes de transmitir todo o conheci mento que os estudantes necessitarão, e nos concentrarmos em despertar neles o desejo e a atitude de aprender.
A globalização que começou pelas relações econômicas e se evidencia através das comunicações mas que na realidade, e um processo de amplitude muito maior e esta afetando todos os setores da vida, inclusive a cultura e a consciência humanas. Em sua dimensão econômica, a globalização demanda mão de obra cada vez mais qualificada, enquanto culturalmente exige de cada um de nos a postura de cidadão do mundo e a capacidade de lidar com a diferença e a diversidade. Parcela importante dessa resposta deve partir do sistema educacional.
A emergência da sociedade civil organizada a escola precise contribuir para a formação de cidadãos responsáveis e participativos. Não baste ter indivíduos com muitos conhecimentos científicos ou com uma profissão. An e suficiente conhecer e exigir os seus direitos. O indivíduo precise ser capacitado a se integrar na sociedade de forma solidaria, consciente de seus deveres e responsabilidades.
Qual é realmente a importância da escola na vida do adolescente ?
A escola não e importante apenas pelo conteúdo pedagógico que transmite; ela exerce vários outros efeitos sobre o aluno. Diversos aprendizados que não estão escritos no currículo formal são experimentados pelo adolescente em sua vida escolar. A escola é uma grande experiência de socialização, de convívio com as diferenças, de todos os tipos e em todos os níveis. E onde, muitas vezes, o adolescente busca formar o seu "grupo de iguais". A experiência escolar tem uma repercussão marcante na consolidação da auto estima, seja contribuindo para o seu fortalecimento ou prejudicando a. Na escola o adolescente tem a oportunidade de conviver com outros adultos alem de seus país e de identificar outros modelos de referência, tanto no sentido positivo quanto no negativo. A escola representa o microcosmo da sociedade, no qual o adolescente se prepara para lidar com situações com que se defrontara "no mundo la fora".
Na escola o aluno também desenvolve (ou não) varias capacidades, tais como ouvir, negociar, ceder, participar, cooperar, perseverar e, desenvolver autodisciplina e responsabilidade. Essas capacidades são fundamentais para o êxito do ser humano. Êxito não pode ser entendido apenas nos campos profissional e financeiro, mas sim, em todas as esferas da vida.
Então, se a escola tem todos estes efeitos e repercussões sobre o adolescente, se ela não e apenas um local onde informações são repassadas, mas e uma experiência que afeta todos setores da vida da criança e do adolescente, então cabe uma pergunta: Qual e o papel da escola ? Para podermos responder a esta pergunta ha uma outra que vem antes: O que e educação ? Uma vez que a escola e um elemento chave da educação, precisamos nos questionar o que e realmente a educação. Mas para se discutir o que é educação, precisamos ter antes, clareza quanto a esta questão: O que é o ser humano ? Porque para termos uma visão do que é educação, precisamos de uma visão do que é o ser humano, qual é a natureza desse homem que a educação pretende desenvolver. Quem é, ou o que é esse ser humano ?
"Considerai o homem como uma mina rica em jóias de inestimável valor. A educação, tão somente, pode faze la revelar seus tesouros e habilitar a humanidade a tirar dela algum beneficio."
Nas duas frases acima Bahá'u'lláh responde as questões que levantamos. Ele compara o ser humano a uma mina rica em jóias muito preciosas. Sabemos que uma mina de jóias não se encontra na superfície, nem em qualquer esquina. A extração de pedras preciosas exige planejamento detalhado, recursos apropriados, estratégias flexíveis, muito trabalho e esforço, cooperação, perseverança e fé. Quando descoberta, uma pedra preciosa encontra se em estado bruto, ou seja, ainda necessita ser limpada, cortada e lapidada, ate que possa se desvelar a jóia que trazia potencialmente. Essa é a visão de ser humano que ele propõe.
Na segunda frase Bahá'u'lláh afirma que somente a educação pode revelar os tesouros desta mina. E coloca dois níveis, duas dimensões para o propósito da educação. Uma dimensão com o propósito voltado para o indivíduo, que seria desenvolver plenamente as múltiplas potencialidades do ser humano, ou seja, entender o ser humano como um ser de capacidades e possibilidades que precisam ser descobertas, como uma jóia em estado bruto. A outra, e uma dimensão coletiva do propósito da educação, que e o de capacitar a humanidade a se beneficiar da contribuição única de cada indivíduo para o bem estar de todos. A educação não visa somente que cada indivíduo se torne o melhor de si, mas também que a sociedade se torne capaz de reconhecer o valor desta jóia e se enriquecer com a sua preciosidade, porque não ha duas jóias com o mesmo tamanho, brilho ou qualidade; cada uma e diferente, única e incomparável. Essas duas dimensões são interligadas através da educação o indivíduo manifesta a plenitude de suas capacidades, colocando as a serviço da raça humana, ao mesmo tempo em que desperta na sociedade a sensibilidade e a justice que a levam a valorizar o papel e a contribuição de cada um de seus integrantes. E claro que estamos nos referindo a educação no seu sentido mais amplo e sistêmico, entendendo que a escola e um dos elementos dessa complexa engrenagem, um dos "espaços de aprendizagem".
Um ser multidimensional
Se almejamos desenvolver as múltiplas potencialidades do educando e de nos mesmos, precisamos reconhecer que potencialidades são essas e em que áreas elas se agrupam. Aqui vamos nos basear na premissa de que o homem pode ser definido pelas suas necessidades essenciais, que abrangem quatro áreas. Portanto, contemplamos quatro dimensões fundamentais do ser humano:
· A dimensão física e material, ou seja, o nosso corpo e suas necessidades de ar, água, alimento, repouso, os cuidados com a saúde, e as nossas necessidades materiais;
. A emocional, que abrange toda a game de emoções que somos capazes de vivenciar, a auto estima, as necessidades de amar e ser amado, de ser aceito e valorizado, as relações que estabelecemos e o quão importantes estas são para a nossa felicidade;
· A mental ou psicológica, que inclui as capacidades e poderes da mente humane, os mistérios da "psique", as necessidades de comunicação, realização, autonomia, apoio, aquisição, criatividade e autopercepção;
. A dimensão espiritual, que e o nível mais profundo das causes, dos princípios norteadores, dos porquês da vida e do propósito da nossa existência; aí se encontram as necessidades de transcendência, altruísmo, desenvolvimento de virtudes, ética e a responsabilidade pelas suas próprias escolhas morais.
Podemos afirmar que a saúde e a felicidade do ser humano provem do equilíbrio entre estas quatro dimensões. Quando nos concentramos numa, ou em duas delas e abandonamos as demais, ha um desequilíbrio, que pode levar a doença, ao sofrimento ou ao vazio existencial. Precisamos aprender a crescer em sodas as nossas dimensões. Todas elas precisam ser contempladas no processo educativo. Porque se nos trabalharmos apenas com as dimensões mental e física, não estaremos desenvolvendo um ser integral.
Então vem o questionamento: Até que ponto a escola tem contribuído para o desenvolvimento das múltiplas potencialidades do ser humano ? E uma pergunta que se coloca diante de cada um de nos. e eu não tenho a resposta' e uma reflexão para os nossos debates. Um professor me ensinou a não ter medo de fazer as perguntas corretas, porque se não as fizermos, jamais encontraremos as respostas certas. Espero que essas sejam perguntas corretas. Até que ponto o atual modelo educacional contribui para a felicidade humana ? Parece uma pergunta absurda, mas não e. O objetivo major da educação deve ser o de servir de alicerce para a felicidade, gerando pessoas felizes, sãs, que promovam o bem estar coletivo de alguma forma, por mais simples seja a sua parte, mas que tenham a visão de estarem ajudando a fazer um mundo melhor.
Estamos preparando os nossos adolescentes para viver de forma plena, consciente, critica e solidaria, exercendo a sua cidadania numa sociedade globalizada ? Ou será que estamos atrelados ainda a um modelo de informações que precisam ser repassadas, de conteúdos que precisam ser aprendidos? É claro que o conteúdo formal e muito importante e necessário, mas será que a felicidade e menos importante ? Onde e que entra a integralidade do ser humano ? Quando e que vamos nos dar conta disso?
Essas questões nos conduzem ao nível mais profundo e básico: quais são os valores humanos, os fundamentos éticos e os princípios espirituais que desejamos escolher concientemente para nortear a nossa caminhada na educação ? Se não fazermos essa reflexão, estaremos tão somente enredados no dia a dia, tentando resolver um problema aqui ou apagar um incêndio ali. Mas tudo permanecera exatamente como esta, pois estaremos combatendo os sintomas e deixando as causas intactas. Quando os princípios e valores fundamentais são definidos e aplicados, temos em mãos uma bússola. Isto não nos isenta das dificuldades cotidianas nem dos inevitáveis percalços, contudo propicia a segurança de não nos desviarmos do rumo almejado, de não nos perdermos nas encruzilhadas e labirintos e, de aprendermos com cada problema ou crise.
Ao meu ver, o momento histórico, social, espiritual e político que vivemos exige uma profunda reavaliação sobre os valores humanos e éticos em torno dos quais a educação deve ser estruturada. Isto não e tarefa simples, não se decide nos gabinetes, não se copia de receitas prontas. E muito mais fácil continuarmos na rotina, repetindo formulas ou fazendo mudanças superficiais que não alcançam a raiz da crise. Querem reformar a educação adicionando novas camadas de tinta a uma estrutura cujos fundamentos têm sérias deficiências. Ao invés de se repensar todo o sistema, acrescentam se disciplinas ou temas, na tentativa de suprir as lacunas existentes, como por exemplo, Educação sexual, Educação ambiental, Educação para cidadania ou Educação para o transito. Ate quando continuaremos fugindo daquilo que e o essencial ?
Precisamos rediscutir e redefinir o que e educação para cada um de nos. o que e o ser humano, 0 que e cidadania, 0 que e solidariedade, 0 que e participação, porque cada uma dessas palavras pode ter inúmeros significados, conotações e implicações. Precisamos chegar na raiz das questões, buscar um consenso sobre qual e o papel da escola, o que e felicidade, o que e justiça. Trata se de uma busca individual e coletiva de princípios que sejam universalmente aceitos, reconhecidos e aplicados, norteando os nossos caminhos, porque soluções mágicas e receitas prontas não vão resolver problemas da magnitude que a humanidade enfrenta hoje. Trata se de um processo de reflexão, discussão, consulta e busca da verdade. (*)
Se não começarmos essa caminhada agora, estaremos realmente perdendo o momento histórico. Esse processo de aprendizagem vai nos levar ao ponto que Bahá'u'lláh diz: "O homem deve conhecer a si próprio e reconhecer que o leva à sublimidade ou à humilhação, a gloria ou ao rebaixamento, à riqueza ou à pobreza "
(*) Há que se cuidar para que o relativismo atualmente em moda entre muitos intelectuais não paralise tal busca. Eles dizem que cada um tem a sua própria verdade, logo, a ética e uma questão puramente individual. Embora eu concorde que ha uma dimensão pessoal da verdade, na qual podem haver "verdades" antagônicas entre dois indivíduos, parece-me obvio que ha também outra dimensão, universal e atemporal, onde se encontram verdades fundamentais e princípios eternos. Esta pode ser alcançada através da consulta, de processos participativos de construção de valores.
Bibliografia
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FURÚTAN, A . Mothers, Fathers and Children. Oxford. George Ronald, 1990.
LASZLO, Ervin Transição para uma Sociedade Global e o Espirito de Cidadania Mundial. IN: 1° Encontro Latino Americano para a Cidadania Mundial. São Paulo, 1996.
MILANI, Feizi M. O Adolescente, a Escola e a Família: Um Sistema Integrado. In: CEAP Revista de Educação, n° 10, setembro 1995. Salvador. Centro de Assessoria Pedagógica
OSÓRIO, Luiz C. Adolescente Hoje. Porto Alegre. Artes Medicas, 1989.
TIBA, Igami Puberdade e Adolescência. São Paulo. Agora, 1986.
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